Pensamento de hoje

Poder de um lado e medo do outro formam a base da autoridade irracional.

sábado, 7 de maio de 2011

A cidade do amanha

O galo do João

Outro dia, li que “os vazios urbanos de Joinville devem render capítulos interessantes na discussão sobre a nova Lei de Uso e Ocupação do Solo”. Ao ler isto me lembrei do poema de João Cabral de Melo Neto, “Tecendo a Manhã”, que em parte diz: “Um galo sozinho não tece a manhã/ ele precisará sempre de outros galos”.

Leva-me o poema a pensar nas muitas discussões ásperas e míopes, sobre urbanismo, que se têm visto em Joinville. Pouco estudo e muito achismo, chegando-se ao cúmulo de se fomentar guerras entre as diferentes classes sociais, como se isto fosse o fulcro principal e não a desigualdade que impera na cidade como um todo.

Edificar a cidade baseado em dados e estudos profundos será muito mais saudável (uso do solo, ventilação, insolação, bem-estar da população) do que apenas ficar discutindo e disputando como se fosse um “cabo de guerra”, se deveremos verticalizá-la ou não ou mudando “rua a rua” o tipo de ocupação.

A impressão que se tem é que os galos não estão tecendo a manhã, mas, sim, concorrendo entre si: quem canta mais alto, quem é o mais bonito, quem empola mais o peito, e que se dane a cidade.

Pelo contrário, se o objetivo de quem a planeja é o bem comum, vislumbro que, para tê-lo, o trabalho deverá ser coletivo e solidário, utilizando-se da beleza do simbolismo do poema.

É imprescindível escutar todos os “galos” para traçar novos rumos para a cidade. É hora de definir objetivos e arregaçar as mangas, empenhando-se e caminhando na mesma direção. Mas só se conseguirá isto se os planejadores estiverem ávidos por ampliar saberes, compartilhar experiências e, acima de tudo, baixando o tom, desempolando o peito e voltando a atenção para o que está acontecendo ao derredor.

“Tecendo a Manhã” deve iluminar o pensamento dos que têm a obrigação de planejar a cidade e deixar claro que um galo sozinho não tece uma manhã”, muito menos o amanhã. E ainda não temos a cidade que desejamos, só tecendo juntos é que teremos a possibilidade de construí-la. Entendo que esta construção deve ser feita em coro, com harmonização das diferentes vozes e, principalmente, com a humildade dos gestores, que também têm a tarefa de cantar com os demais e sem desafinar.

hans.moraes@gmail.com

ANSELMO FÁBIO DE MORAES, MESTRE EM ENGENHARIA CIVIL

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