Pensamento de hoje

Poder de um lado e medo do outro formam a base da autoridade irracional.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Adensar para cima. Por quê?



O Jornal A Noticia de Joinville, publicou o texto do Arqto. Sérgio Gollnick, sobre a verticalização e a politica de desenvolvimento urbano da nossa cidade.

Joinville é uma cidade que, ao longo dos tempos, foi ocupando grandes porções de terras rurais ou ainda aquelas mais indicadas à preservação, expandido seu território acima de padrões desejáveis de ocupação urbana, conferindo-lhe um alto custo de manutenção resultante do pouco adensamento ou de grandes distâncias a serem cobertas pela infra-estrutura técnica (água, esgoto, transporte pavimentação, etc.). Esse aspecto constitui-se, é verdade, num dos nossos maiores problemas.

Uma das mais notáveis características de Joinville é o verde privado, especialmente nos bairros mais centrais, surgidos de lotes fracionados da Colônia Dona Francisca permitindo que as casas estivessem contidas dentro de grandes terrenos. Na parte frontal, plantavam-se belos jardins de flores. Nos fundos, pequenas hortas, e ranchos permitiam uma agricultura de complementaridade.

Se caminharmos por algumas grandes cidades do primeiro mundo, veremos essas particularidades preservadas a sete chaves, cultuando-se o bucolismo, o respirar a cidade, contemplando o viver sadio. Joinville sempre foi atrativa justamente por essa característica das construções horizontais, casas com forte arborização, mantendo uma excepcional qualidade de vida.

Na década de 70, por conta do novo Plano Diretor (1973), surgiram alguns prédios que simbolizaram nossa pujança e desenvolvimento. O modelo horizontal de Joinville foi muito marcante até a década de 80, quando, então, viemos a ter uma mudança no skyline da cidade, surgindo diversos prédios residenciais, mas numa escala que permitiu à cidade ter ainda uma razoável ventilação.

Aquele mesmo Plano Diretor teve como seu maior trunfo preservar as áreas acima da cota 40, compensado nossa pouca arborização pública e a ocupação integral dos terrenos pelos novos prédios. Bairros tipicamente residenciais (América, Glória, Anita Garibaldi, Santo Antônio etc.), onde ainda hoje predominam a horizontalidade, nos deram a opção do viver na escala bucólica, necessária a qualquer cidade que pleiteie qualidade de vida.

Recentemente, alguns setores do ramo imobiliário local e empreendedores externos passaram a pressionar o poder público para liberar novas áreas para a verticalização ou o aumento de gabarito (número de pavimentos), como também a ocupação acima da cota 40, proposta contestada por algumas associações e segmentos sociais. As mudanças propostas vêm tendo o apoio do planejamento oficial, postando-se como seu defensor, justificando o adensamento pela verticalização como única forma de aproveitamento da infra-estrutura técnica e desconsiderando aspectos históricos ou culturais.

Essa visão retilínea e, ao mesmo tempo, míope, trará uma forte descaracterização de partes da cidade já muito consolidadas. Agrava-se o fato de que não há estudo profundo nem amparo da sociedade nesta pretensão, pois existem deficiências técnicas e ambientais que não permitem que a cidade cresça para cima, em muitas circunstâncias.

Adensar é uma técnica do urbanismo que pode ser bem utilizada, para cima, para os lados ou ocupando vazios urbanos, com o propósito de corrigir rumos e diminuir os custos sociais da cidade. Isso, no entanto, requer um planejamento apurado, sistemático, acompanhado de ações público-privadas para que o próprio adensamento não se transforme num problema.

Quando e como adensar não é apenas uma conta a ser feita por corretores de imóveis, incorporadores ou especuladores. Essa conta deve ser feita e aprovada pela sociedade, devidamente instruída para decidir qual a melhor alternativa. É isso que se pratica nas sociedades democráticas modernas. É isso que se espera da nova administração.

lepadronjoinville@terra.com.br

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